Cultivo protegido pode tornar uva paranaense mais saudável e produtiva

O Paraná é um dos maiores produtores de uva do país, com uma produção em 2024 de quase 46 mil toneladas. Entretanto, uma situação está ameaçando a viticultura do Estado: a deriva de herbicidas produzida por outros cultivos, como o de soja. Para lidar com esse problema, o projeto “Produção Sustentável de Uvas de Mesa e para o Processamento Industrial sob Sistemas de Cultivo Protegido”, coordenado pelo professor do Departamento de Agronomia , Sérgio Ruffo Roberto, promete inovações que poderão reduzir custos e aumentar a produtividade do cultivo.

Normalmente originada de plantações de grãos, a deriva de herbicidas nada mais é do que o seu deslocamento pelo vento de uma propriedade que fez uso desse produto para outra que não estava preparada para o contato com ele. Para a viticultura, a presença desses “visitantes” indesejáveis é devastadora, provocando perdas parciais e até totais da produção. O problema é novo e tão preocupante que tem tomado a atenção do governo do Paraná, que recentemente anunciou a intenção de cadastrar propriedades produtoras de uva com o objetivo de planejar ações contra a deriva.

O projeto conduzido pelo professor Sérgio Ruffo traz uma solução simples e eficaz: cobrir os parreirais com lonas plásticas. Essa estratégia se insere na técnica do sistema de cultivo protegido, que normalmente usa o sombrite (tela de sombreamento), uma malha mais voltada para proteção contra granizo e ataques de pássaros e morcegos. No projeto, ao invés do sombrite será usada uma lona de plástico transparente, desenvolvida exclusivamente para a produção de uvas, que protege totalmente contra a deposição dos herbicidas trazidos pelo ar.

Além disso, o uso da lona produzirá uma outra vantagem: o combate a doenças fúngicas. Isso porque o revestimento também protege contra a chuva. Pode parecer estranho, pois o senso comum diz que plantações precisam de água de chuva, e quanto mais, melhor, certo? Nem sempre. Para a viticultura, o excesso de chuva, como às vezes acontece no Norte do Paraná, acarreta as doenças fúngicas, pois o fungo se beneficia do acúmulo de água nas folhas, favorecendo seu deslocamento rumo à infecção, como um espermatozoide “nadando” em direção ao óvulo. A ideia é que a irrigação do parreiral venha por baixo, artificialmente, atinja mais o solo e mantenha as folhas das uvas sempre secas.

Além da cobertura por lona, o projeto prevê colocar cercas vivas no entorno dos parreirais visando mitigar a ação da deriva de herbicidas. Constituída por uma vegetação que barra o vento, as cercas vivas inibem o espalhamento do veneno dentro do parreiral. Outra medida de cunho sustentável para debelar a ação de agrotóxicos, sobretudo fungicidas, será o uso de bioinsumos no lugar de defensivos agrícolas para o cultivo das uvas. Segundo o professor Sérgio Ruffo, a adoção de cultivos de uvas de mesa em sistema protegido e sustentável associado ao uso de bioinsumos é uma tecnologia inovadora.

O estudo não se debruçará apenas sobre a produção de uvas de mesa, mas também sobre as uvas destinadas ao processamento industrial, ou seja, para a elaboração de vinhos e sucos. Serão usadas cultivares (espécies melhoradas geneticamente) de uvas nos experimentos a fim de selecionar as que melhor se adaptem ao agrossistema proposto no projeto com vistas à elaboração de vinhos finos e à produção de sucos. Uma vez escolhidas as melhores espécies, o objetivo é comprovar sua eficiência com um aumento de 30% em relação às cultivares convencionais.

Ainda sobre aumento de produtividade, segundo o coordenador do projeto, uma das metas é que o cultivo protegido aumente em 20% a produtividade média dos parreirais. Cabe ressaltar que o sistema de cultivo protegido será usado nos experimentos tanto para uvas de mesa, quanto para as destinadas ao processamento industrial.

Mais vantagens

Afora os ganhos em produtividade, segundo Sérgio Ruffo, os resultados do projeto poderão apontar outras vantagens para os produtores, por exemplo, na relação custo-benefício. Em que pese a adoção da lona plástica implicar em custos, seu uso resultará na dispensa do sombrite, que é um artefato caro. Mas a grande economia mesmo viria da redução dos custos com fungicidas, seja por conta da adoção de bioinsumos para o cultivo das uvas, seja por conta da diminuição do aparecimento de doenças fúngicas devido à menor exposição das folhas das videiras à água da chuva. Está prevista uma redução de cerca de 80% dos custos com fungicidas.

Além disso, a implantação de bioinsumos no lugar de agrotóxicos torna o cultivo sustentável, o que aumenta o valor agregado das frutas, visto que países da União Europeia, por exemplo, dão preferência a esse tipo de produto para a importação. “A importância do projeto é inovar o atual sistema de produção. Inovar causa sempre uma dúvida, um receio para quem está na linha de frente da produção. Você vai fazer uma agricultura sustentável, então vai investir um pouco, mas você terá um ganho muito maior depois”, afirma Sérgio Ruffo.

O projeto é financiado pela Fundação Araucária e foi recentemente contemplado no Programa Bolsas de Produtividade em Pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e faz parte do Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação, “NAPI – Inova-Vitis”, que, entre outros objetivos, visa contribuir para a ampliação da produção de uvas no Paraná. A pesquisa será realizada em áreas experimentais de campo localizadas no município de Marialva e em áreas comerciais pertencentes a diversas vinícolas na região de Curitiba.

A pesquisa contará com a participação de bolsistas de Iniciação Científica, de Mestrado e de Doutorado e terá o apoio de várias entidades, entre elas o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), a Associação dos Vitivinicultores do Paraná (VINOPAR), além de instituições estrangeiras como Universidade de Clemson (EUA) e Instituto Politécnico de Viseu (Portugal).

Fonte: Agência UEL