O curta-metragem londrinense “O Enegrecer de Iemanjá e a Subtração do Sagrado Afro” conquistou o prêmio de melhor documentário na Mostra Brasil da segunda edição do Festival Nacional de Curtas Pensar Filmes. O projeto contou com o patrocínio da Lei Paulo Gustavo, viabilizado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC). A partir de uma visão autoetnográfica do diretor do filme, Marcos Costa (Uê Puauet), o curta-documentário conta a história de Iemanjá, um orixá africano que teve sua representatividade deformada pelo racismo e associada à imagem de uma mulher branca.

Segundo o diretor, a obra aborda as situações de racismo que interferem diretamente no sagrado afro-brasileiro, culminando nas práticas racistas às quais as crianças e jovens estão expostos na escola. Mostra, também, o medo que esses jovens têm de assumir socialmente a sua religiosidade, uma vez que a violência que sofrem por terem escolhido esse sagrado pode resultar na própria morte.
Puauet trabalha há mais de 20 anos com projetos artísticos que têm como objetivo o enfrentamento do racismo. Ele contou que a inspiração para o filme veio da sua percepção de que, nos últimos anos, a violência contra as pessoas pertencentes às religiões de matriz africana está cada vez mais acirrada. Isso acontece principalmente em ambientes escolares, uma vez que é nesses locais que se percebem os reflexos da sociedade, incluindo suas patologias sociais.

“Espero que as pessoas tenham uma nova forma de olhar para esse sagrado, tão importante para todo o segmento negro no Brasil e para todos os adeptos da religião. Temos que considerar a demasiada importância desse sagrado que serviu como alimento espiritual durante um período monstruoso que foi a escravização negra no Brasil e no mundo. Definitivamente é preciso respeito, e é preciso valorizar a sabedoria ancestral, aquela que acredita e preserva a natureza, e está longe de se tornar uma mera mercadoria”, complementou Puauet.
O filme foi produzido em 2024 e desde sua estreia, em novembro do mesmo ano, vem circulando em festivais e mostras de cinema em Londrina. Também foi exibido em Brasília e agora na Bahia. A obra tem duração de 15 minutos e contou com aproximadamente 25 pessoas em sua equipe de produção.
O Festival Nacional de Curtas Pensar Filmes acontece na cidade baiana de Pintadas, e vem se consolidando como um importante espaço para a difusão, valorização e debate do cinema independente no Brasil.