No contexto atual, em que o acesso à saúde de forma geral não contempla todas as classes sociais, a Fisioterapia tampouco consegue se destacar como uma ferramenta de suporte substancial em classes menos abastadas.
As deficiências do sistema público de saúde e não menos deficiente, o sistema de saúde suplementar, não conseguem oferecer este serviço à população da maneira como deveria.
Quase não há encaminhamentos para Fisioterapia provindos do SUS (Sistema Único de Saúde) e quando esses são feitos, o paciente deve esperar em torno de seis meses, ou atravessar toda a cidade para fazer o tratamento em uma das clínicas parceiras das prefeituras, o que acaba sendo custoso e cansativo, principalmente àqueles que necessitam do serviço justamente por terem problemas com a mobilidade ou algum tipo de dor.
Os planos de saúde têm um maior potencial para atendimento dos pacientes que necessitam do serviço e um número bem maior de encaminhamentos é feito pela saúde suplementar. Porém, ainda se apresenta muito aquém do real potencial para execução de um trabalho fisioterapêutico ideal, pois as clínicas são obrigadas a atender um número muito grande de pacientes por horário, a fim de cobrir os gastos com profissionais, estrutura e impostos diante do ínfimo valor repassado pelos planos à estas.
Não basta apenas querer e ser capaz de prestar um serviço de qualidade. O fisioterapeuta, diante dessas duas realidades fica refém de um sistema falho em atender às demandas essenciais da população no quesito de diagnósticos cinéticos-funcionais, tratamento das disfunções do movimento humano, acompanhamento e reabilitação profissional. Muitos, veem-se obrigados a dispor de estrutura e conhecimento técnico-científico caros por valores inferiores a R$ 20,00, e diante de inúmeras obrigações empresariais, opta por atender vários pacientes por dia, tentando dessa forma suprir as necessidades do mercado e continuar exercendo seu papel de agente de saúde junto à população.
A Fisioterapia ideal é aquela individualizada, que consegue, através de sua valorização atender de forma completa seu paciente, prestando todo seu conhecimento e potencialidade em prol das disfunções cinéticas e funcionais orquestradas pelas inúmeras patologias que atingem os mais variados sistemas do organismo. De forma individual, o profissional pode personalizar suas ações conforme os achados específicos, obtendo um resultado infinitamente superior a tratamentos executados em grupos atendidos dentro de clínicas e serviços que atendem pelo SUS ou pelos planos de saúde.
Infelizmente, milhões de pessoas sofrem com problemas cinético-funcionais (habilitação profissional do fisioterapeuta), mas o tipo de prevenção e tratamento oferecidos atualmente pelo sistema de saúde público e suplementar são inteiramente falhos. Muitas indicações de tratamentos mais custosos tanto para o paciente quanto para o sistema ainda prevalecem em nossa sociedade e essa realidade vem sendo discutida por revistas conhecidas e prestigiadas no campo médico, como a “The Lancet” por exemplo.
Vários artigos publicados despertam críticas aos cuidados errados oferecidos à pacientes, criticando inclusive o investimento enérgico em testes e tratamentos que oferecem alto grau de risco, enquanto a Fisioterapia, como tratamento conservador, por muitos nem é lembrada ou é levada a descrédito. O sucesso que o tratamento deveria oferecer esbarra com as dificuldades do profissional, que precisa realizar muitos atendimentos por dia e, portanto, sem a mesma qualidade.
Como poderemos modificar isso?
A única forma de mudar a realidade atual é divulgando amplamente a atuação desse profissional para a população e estudantes. A Fisioterapia consiste em reunir estratégias para atender todas as classes sociais, porém de maneira única e individualizada, com qualidade, conhecimento técnico e científico.
Autora: Fernanda M. Cercal Eduardo é fisioterapeuta, mestre em Tecnologia em Saúde e coordenadora do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Internacional Uninter.