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Maio, reconhecido nacionalmente como Mês das Mães, é um convite sobre a discussão das dificuldades enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho em relação à maternidade – que ainda é vista com maus olhos por parte dos empregadores, que questionam o desempenho das mães no trabalho por conta da necessidade de se dedicar mais ao pilar da família quando chegam os filhos. Para alguns, a maternidade e a carreira são papéis ainda difíceis de conciliar. E essa visão reflete nas pesquisas.
Uma delas, divulgada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) em 2017, chamada “Licença-maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil”, feita com 247 mil mulheres, mostrou que metade delas perderam seus empregos após a gravidez. O estudo também constatou que as trabalhadoras que saem de licença-maternidade são demitidas em até 24 meses após o nascimento da criança.
Esse fenômeno é chamado por pesquisadores americanos de “glass ceiling” (na tradução para o português “teto de vidro”) e é definido como uma barreira invisível que dificulta que as mulheres sejam promovidas para cargos importantes.
E em relação à realidade brasileira, vale destacar que a Lei 14.020/20 garante a estabilidade de emprego da mulher, a partir da confirmação da gravidez. No entanto, hoje ainda no mercado de trabalho, na hora de escolher um candidato para preenchimento de uma vaga, homens ou mulheres que não têm filhos têm preferência.
O estudo Estatísticas de Gênero, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que em 2021, apenas 54,6% das mães de 25 a 49 anos que têm crianças de até três anos em casa estão empregadas. A maternidade negra, nesta mesma situação, representa uma taxa ainda menor: menos da metade está no mercado de trabalho (49,7%).
Desigualdade e preconceito
Mesmo com a evolução do mercado e as mudanças que ele vem sofrendo, ainda assim, é permeado de desigualdades para as mulheres. Para Melina Lass, sócia diretora da dbm Contact Center, que possui mais de 3.000 mil colaboradores contratados em regime CLT, essa é uma questão cultural. “Por os filhos precisarem da mãe nesta primeira infância e a sociedade ainda acreditar que a mulher é a única responsável pelo cuidado deles, os empregadores têm preconceito em contratá-las. Além disso, é comum pensar que esses profissionais não entregarão o desempenho esperado quanto às demandas. Mas essa é uma visão míope”, opina a executiva.
Mãe de dois filhos, Melina deu oportunidade para Eliana Tartaglione, gerente de recursos humanos, que estava em licença maternidade do seu primeiro filho, que hoje tem 11 anos, quando foi contratada pela dbm Contact Center. Na ocasião, a própria Eliana se sentiu insegura em assumir um cargo de responsabilidade, numa nova empresa, quando tinha um bebê praticamente recém-nascido no colo. E o fato de ter sido entrevista por uma gestora de alto escalão, que seria sua superior direta e que também tinha um filho praticamente da mesma idade, a encorajou a aceitar o desafio.
“Me senti acolhida e imediatamente me identifiquei com uma gestora mãe, que entenderia essa situação. É inegável que a maternidade, inicialmente, carrega consigo um misto de mito e medo. E eu mesma tinha esse medo de não conseguir conciliar meu novo papel na estrutura familiar com a carreira, principalmente porque eu era mãe de primeira viagem. Imaginei que se ocorresse algum imprevisto com a saúde do meu filho, por exemplo, estaria amparada por uma gestora que estava vivendo a mesma situação. Fiz a aposta certa de vir para a dbm Conctact Center e interromper o plano de ficar em casa até que meu filho completasse seu primeiro ano de vida”, conta Eliana.
A gerente de recursos humanos ainda teve seu segundo filho, hoje com oito anos, e passou por uma segunda gestação e licença maternidade, sem medo de perder o emprego. E Eliana não romantiza a maternidade, admite que as mulheres – e homens também – precisam se organizar para encarar uma jornada dupla ou tripla, sobretudo quando a família é composta por filhos pequenos. “É uma fase desafiadora, contudo todos os membros das famílias têm capacidade de se adaptar para assumir todas as frentes. Não é fácil, mas também está longe de ser impossível, como pensam muitos empregadores. E quando a mulher se sente segura e amparada pela empresa, é muito mais fácil conciliar as mudanças que a maternidade traz para a vida das pessoas e a carreira”, avalia.
Na visão de Eliana, a pandemia ajudou mães e pais porque desmistificou a relação entre a improdutividade e o home office. “Hoje, quando as mães recebem um atestado médico porque o filho está com febre, conseguem se manter conectadas à empresa por meio do trabalho remoto. E as lideranças perceberam que a modalidade dá certo. Na dbm Contact Center temos essa visão, de que uma ausência física não traz impactos para os dois lados”.
Maternidade e maturidade
Para Eliana Tartaglione, que também é psicóloga, as próprias mulheres, mães e aquelas que desejam ter filhos, podem contribuir para a resolução da equação maternidade e carreira por meio do autoconhecimento. “É preciso adquirir maturidade para ser mãe, profissional, sem esquecer de ser mulher. Temos total capacidade de conciliar todos esses papéis, desde que haja organização e força de vontade. Antes de cuidar dos outros, precisamos cuidar de nós mesmas fisicamente e mentalmente, para evitar frustrações”, ressalta Eliana.
Na visão da gerente da dbm Contact Center, a própria maternidade é uma escola. “Quando nos tornamos mãe, acabamos descobrindo instintos e habilidades que não sabia que tinha, que chamamos hoje de soft skills, que são competências comportamentais cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho. Naturalmente, a maternidade desenvolve resiliência, paciência, capacidade de se colocar no lugar do outro e todas essas características fazem bem para a rotina das organizações. No meu caso, como gestora de RH, isso se fortaleceu ainda mais. Tenho esse olhar empático com as mulheres que são mães na dbm Contact Center, para que os gestores não julguem uma falta por causa de um problema familiar”, analisa.
Aline Godoy é gerente de operações na dbm Contact Center, onde trabalha há 10 anos. Ela é mãe de duas crianças de 7 e 3 anos e concilia duas maternidades e a carreira na empresa e também atesta que é possível ser mãe e profissional ao mesmo tempo, sem prejuízos em um desses papéis.
Aline é mais uma mulher que enxerga a maternidade como sinônimo de aprendizado: é uma janela de oportunidades para a descoberta de novos dons na relação com os filhos, que são colocados em prática no seu dia a dia como líder. “A empatia, por exemplo, é uma dessas características das mães. A gente consegue entender o outro e ajudá-lo para que seja acolhido. Além disso, a maternidade é encantadora. E quando chegamos em casa, para a dupla jornada, recebemos o carinho dos nossos filhos, nos dedicamos a eles e esse tempo de qualidade da nossa vida pessoal é uma forma de reabastecer nossa energia para trabalhar melhor e mais feliz no dia seguinte. Ao contrário do que muitos pensam, a maternidade não é um peso. Ao contrário: traz leveza e uma outra forma de encarar os problemas profissionais”, finaliza.