Na tecnologia, na liderança, na política: falta representatividade das mulheres

Ainda há o estigma de que Tecnologia é coisa de menino. No entanto, esse preconceito não tem fundamento e é repleto de contradições. Foi Ada Lovelace que fundou a computação científica, no século 18, e durante a 2ª Guerra Mundial eram as mulheres que estavam na linha de frente da programação. Isso persistiu por muito tempo. Até 1974, no bacharelado em ciência da computação do IME (Instituto de Matemática e Estatística) da USP, as mulheres representavam 70% da turma.

No entanto, nos dias de hoje, a realidade é bem diferente. Tudo começou a mudar na década de 1980, quando surgiu o Desktop e o público masculino começou a se interessar por jogos e planilhas, como conta Amanda Carneiro, coorganizadora do grupo Tech Girls. “Foi nesse momento que eles começaram a encher as salas de aula dos cursos e formação na área de tecnologia. Até que, na década de 1990, poucas mulheres optavam por essa área”, conta.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE aponta que só 20% dos profissionais que atuam no mercado de TI são mulheres. E aquelas que resistem enfrentam um cenário de desigualdade no mercado de trabalho. Para se ter uma ideia, ainda de acordo com o levantamento do IBGE, as profissionais de TI do sexo feminino têm grau de instrução mais elevado do que os homens do setor no Brasil, mas, mesmo assim, ganham 34% menos do que eles. “A diferença salarial é gritante. É frustrante observar mulheres com capacitação mais alta, mas na carteira já são registradas com um cargo mais baixo. A cena se repete em várias empresas: elas são as especialistas do time, mas quem tem maior salário é o homem”, depõe Amanda.

E não é apenas na tecnologia que o preconceito em relação às mulheres persiste. Na pesquisa “Atitudes Globais pela Igualdade de Gênero” (em tradução livre do inglês), publicada em 2019 pela Ipsos. No Brasil, 27% dos entrevistados admitem que se sentem desconfortáveis em ter uma mulher como chefe. A resistência a mulheres líderes é maior entre os homens, alcançando 31% deles – enquanto 24% das trabalhadoras no Brasil pensam da mesma forma sobre serem lideradas por alguém do mesmo sexo. Esse percentual se iguala ao de países como Índia, Coréia do Sul e Malásia, lugares onde se observa uma rejeição à liderança feminina bem maior que a média mundial, de 17%.

Para Lenia Luz, fundadora do Empreendedorismo Rosa e líder do Comitê de Empreendedorismo do Grupo Mulheres do Brasil, núcleo Curitiba, o preconceito é materializado nas piadas, nas diferenças salariais e na forma como a competência das mulheres sempre é colocada à prova. “O que há de positivo são as discussões a respeito da equidade. Estar na pauta das empresas, das políticas públicas, em grupos ou nas redes sociais é um caminho para diminuir a desigualdades entre homens e mulheres nos cargos de liderança”, argumenta.

Na política os homens também ainda prevalecem em quantidade numérica. “O histórico eleitoral não é muito favorável para as mulheres. São apenas 24 vereadoras que foram eleitas em Curitiba no período de 87 anos, incluindo as que estão no mandato atualmente. É uma realidade antidemocrática. Nossa voz, as demandas das mulheres, não passam pela política. Na capital paranaense, dados do Senso estimam que 52% da população é formada por mulheres, mas ainda somos minoria nos cargos públicos, ocupando apenas 21% dos lugares na Câmara Municipal. E esse número ainda é expressivo em comparação a outras cidades, que não chegam a ter sequer uma representante no governo municipal”, afirma Lenia Luz.

Para ela, os coletivos, que surgiram nos últimos dois anos, como o Vote Nelas, do qual Lenia é embaixadora, são movimentos na tentativa de mudar esse quadro. “O ganho é esse: eles e elas são convidados a olhar para as candidatas, para suas propostas e para suas demandas, para que, já nas próximas eleições, o número de mulheres eleitas seja crescente. Quando participamos desses coletivos vemos como as interessadas em se candidatar sofrem para concorrer às eleições desde verba, acesso, passando pelo espaço. Esses coletivos são importantes para encorajar essas mulheres, porque a pressão para que desistam é muito grande”, explica Lenia.

Mulher e mercado de trabalho é pauta do Movimento UMA

Mulher e mercado de trabalho é pauta do Movimento UMA

A desigualdade de gêneros, pauta do Movimento UMA, é um dos problemas encarados pelo público feminino, em pleno século XXI, daí a importância de debater sobre essa questão. “Basta analisar os cargos de liderança nas empresas. Informações do Ministério da Economia demonstram que as mulheres detêm 42,4% das funções de gerência, 13,9% de diretoria e 27,3% de superintendência. Ou seja, quanto mais alto o nível dentro de uma companhia, menos elas estão presentes”, diz Regina Arns, idealizadora do Movimento UMA. Ela é Presidente do MEX Brasil, Diretora da Lapidus Network e também líder do Núcleo Curitiba do Grupo Mulheres do Brasil, que é idealizadora do Programa.

Regina ressalta ainda a questão da maternidade como um tabu no universo corporativo. “É um viés claramente de gênero e os gestores precisam estar conscientes sobre seus preconceitos para que não ocorram injustiças nas promoções ou nas contratações”, comenta Regina.

Amanda Carneiro ressalta que a pergunta “você pretende ter filhos?” é um clássico nas entrevistas de emprego. “Mesmo que não tenha interesse pela maternidade, isso vira uma questão decisiva no mercado de trabalho. Temos que trabalhar com as mulheres para que elas estejam preparadas para rebater essa resposta: afinal, esse questionamento não é feito para os homens. Todas essas questões causam danos psicológicos no público feminino, que precisa ter o dobro de autoconfiança e autoconhecimento para não se deixarem abalar pelo preconceito e ambiente desfavorável”, enfatiza a coorganizadora do grupo Tech Girls.

A cantora e empresária Preta Gil será um dos destaques na programação do Movimento UMA na pauta sobre carreiras.

Sobre o Movimento UMA

O Movimento UMA – Movimento Integrado para o Empoderamento das Mulheres é fruto da união de várias líderes de grupos das mulheres e comandada pelo MEX Brasil – Espaço Mulheres Executivas – e Grupo Mulheres do Brasil. Todos os eventos estão sendo realizados de forma on-line para respeitar a medida de isolamento social, em virtude da pandemia da Covid-19. A programação completa está disponível no hotsite: www.movimentouma.com.br.

O Movimento UMA conta com a participação ativa de grupos, entidades, organizações e empresas que desejam atuar no empoderamento feminino e trazer o tema para a agenda da sociedade e, sobretudo, estimular o desenvolvimento de soluções para os problemas que permeiam o cotidiano das mulheres. Ao lado de Regina Arns, Ana Rojas, executiva da Volvo e Silvana Pampu, gerente de Recursos Humanos na Renault do Brasil. 

Confira a programação das lives de 19 a 22 de outubro

19 de outubro – 19h

Tema: Onde estão as mulheres empreendedoras negras e na tecnologia? Aqui!

A live conta com a participação de Preta Gil (cantora e empresária).

21 de outubro – 19h

Tema: A tecnologia a favor da sua saúde.

A live terá a presença de Adriano Rocha Lago, superintendente do Hospital Erasto Gaertner.

22 de outubro – 19h

Tema: as dores e os sabores do empreender.

A live será apresentada por Renata Zanutto, head do Cubo Itaú.

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