Novembro Azul: câncer de próstata é curável em 90% dos casos

São várias as barreiras culturais que a população masculina precisa superar para quebrar o ciclo de negligência ao cuidado com a saúde. E campanhas como “Novembro Azul”, realizadas anualmente pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) para promover a conscientização à prevenção e diagnóstico do câncer de próstata, são fundamentais para reforçar que o autocuidado é a maneira mais eficaz de garantir qualidade de vida e, em alguns casos, salvar a própria vida.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais incidente e o segundo que mais mata entre os homens. Estimativas do Inca apontam para o registro de 71.730 novos casos da doença no Brasil entre os anos de 2023 e 2025. A resistência em realizar um acompanhamento médico adequado, que prevê consultas anuais ao urologista, pode sepultar as chances de cura, já que a doença nas fases iniciais é frequentemente assintomática.

A próstata é uma glândula presente apenas nos homens, localizada na frente do reto, abaixo da bexiga, envolvendo a parte superior da uretra, canal por onde passa a urina. Sua função é produzir um líquido que compõe parte do sêmen, que nutre e protege os espermatozoides. Em homens jovens, possui o tamanho de uma ameixa, mas ela aumenta com o avançar da idade. A próstata não é responsável pela ereção nem pelo orgasmo masculino.

O médico urologista que integra o corpo clínico do Centro Médico do São Francisco Instituto Vida, Mauro Calzolari Borges, explica que, quando o câncer de próstata é diagnosticado precocemente, as chances de cura ultrapassam 90%, com tratamentos menos agressivos e bons resultados funcionais.

“Mesmo assim, muitos homens ainda adiam a consulta por medo, vergonha ou por acreditar que ‘não sentir nada’ significa estar saudável. O problema é que o câncer de próstata é silencioso nas fases iniciais, e é justamente nesse momento que temos a melhor oportunidade de curá-lo”, enfatiza o médico.

Borges destaca que os principais fatores de risco para o câncer de próstata incluem a idade, com aumento significativo da incidência a partir dos 50 anos; o histórico familiar, especialmente entre homens que têm pai, irmão ou tio diagnosticados com a doença; e a raça, já que homens negros apresentam maior predisposição e, por isso, devem iniciar o rastreamento mais cedo. O estilo de vida também tem papel importante. Obesidade, sedentarismo e alimentação rica em gordura animal estão entre os hábitos que aumentam as chances de desenvolver o câncer.

Segundo o urologista, para a maioria dos homens, o ideal é iniciar o acompanhamento médico aos 50 anos. Já aqueles com histórico familiar de câncer de próstata ou pertencentes a grupos de maior risco, como os homens negros, devem começar aos 45 anos. Após a primeira avaliação, a frequência das consultas é definida de forma individual, mas uma vez ao ano costuma ser suficiente para manter a saúde sob controle. Entre os sintomas comuns da doença, quando presentes, estão a dificuldade de urinar; demora em começar e terminar de urinar; sangue na urina; diminuição do jato de urina; e necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite.

O médico esclarece que, hoje, a avaliação urológica combina o exame de sangue (PSA) e, quando necessário, o toque retal, um procedimento rápido, indolor e de grande valor para identificar alterações ainda em fases iniciais. Em casos específicos, exames de imagem, como a ressonância magnética multiparamétrica da próstata, podem complementar a investigação, auxiliando na detecção e no direcionamento de biópsias.

“É importante lembrar que o toque retal continua sendo um exame essencial, acessível e extremamente custo-efetivo, especialmente em um cenário de prevenção populacional. Costumo dizer aos meus pacientes que o exame não é motivo de vergonha, e sim um ato de proteção e coragem”, ressalta.

Apesar da campanha Novembro Azul reforçar a conscientização para o câncer de próstata, desempenha um papel essencial de incentivar os homens a cuidar da saúde. Existem outras condições urológicas importantes que precisam entrar no foco da prevenção e tratamento, como a hiperplasia prostática benigna (o aumento benigno da próstata), as infecções urinárias, cálculos renais e a disfunção erétil, que muitas vezes pode sinalizar doenças cardiovasculares. O urologista é o médico que cuida da saúde do homem – dos sistemas urinário, reprodutivo e sexual – ao longo de toda a vida.

Informação como aliada da prevenção

A ideia de que homem não chora, que a dor é frescura ou exagero, impede muitos deles de cuidar apropriadamente da saúde ao longo da vida. A psicóloga especialista em terapia familiar sistêmica, Fernanda Barutta Pierri, diz que tais comportamentos são a herança da educação que receberam em casa, é cultural.

“Mesmo com mais informações sobre o câncer de próstata hoje, boa parte dos homens não quer fazer o exame preventivo, tiram sarro, brincam, e não vão ao médico. Quem normalmente marca consulta para eles são as mulheres”, afirma.

A especialista diz que o medo é outra barreira a ser superada, já que muitos não buscam atendimento com receio de encontrar um problema de saúde e precisar tratá-lo. Para eles, isso seria um sinal de fraqueza e sinônimo de impotência. Por isso, Fernanda defende que ações de conscientização relacionadas aos cuidados com a saúde masculina deveriam ocorrer o ano todo, na imprensa, redes sociais e escolas.

“Em geral, os homens não gostam de se abrir ou falar dos seus problemas. Informação e ajuda psicológica podem elevar o nível de conscientização”, completa.