Se o samba é hoje ritmo nacional, símbolo do país, a viagem que o conduz até aqui é de violência, resistência e negociação. Produto da mistura da célula rítmica africana, sopros indígenas e cordas ibéricas, em tudo sua história é um retrato da formação do Brasil. Alinhada com o tema curatorial do Festival de Dança de Londrina 2025 – Sabedoria, Soberania Nacional – a aula-espetáculo “Costuras poéticas pelo fio da voz”, do escritor, ator e professor Renato Forin Jr. oferece ao público um misto de palestra sobre brasilidade, show musical e recital poético.
A apresentação gratuita acontece nesta quarta-feira, 8 de outubro, às 20 horas, no Teatro Ouro Verde, com classificação indicativa de 14 anos e 110 minutos de duração. Metade dos ingressos estão disponíveis para retirada no Sympa do Festival (que pode ser acessado pelo site www.festivaldedancadelondrina.art.br) e os outros 50% serão distribuídos presencialmente no teatro, a partir das 16 horas da quarta. Cada CPF pode obter, no máximo, dois ingressos. A aula-espetáculo e o Festival de Dança de Londrina contam com patrocínio da Itaipu Binacional.
Ao longo das mais de 30 apresentações já realizadas em cidades do Paraná e São Paulo, “Costuras poéticas…” tem emocionado espectadores pela tessitura de afetos e saberes conduzida pelo autor. O trabalho nasceu a partir dos convites para palestras que Renato Forin Jr. recebia de escolas depois de seu livro-CD “Samba de uma noite de verão” ser contemplado com o Prêmio Jabuti, em 2017. “Eu chegava na sala de aula e percebia uma ideia cristalizada no imaginário dos alunos sobre o perfil e a história de um escritor. A literatura parecia sempre algo apartado da vida, distante das pessoas. Gostava de contar minha trajetória, porque muitos se identificavam: não tive uma infância cercada de livros, o que não significa que estive distante da poesia. Pelo contrário, ela estava nas histórias orais e canções da minha família. A paixão pelo livro vem só depois, e ele esteve sempre a serviço da voz”, explica.
As narrativas pessoais amplificam-se em aspectos que ajudam a explicar a formação cultural do país, como a fusão da cultura letrada com a oralidade, que produziu no Brasil uma estética potente e singular, de confluência do erudito com o popular. Na apresentação, Renato incorpora aos primeiros contadores de história de que se tem registro – os griôs africanos e os rapsodos gregos –, e os atualiza por meio da potência oral do Brasil, herança da formação étnica. O nome “costuras poéticas” faz referência à etimologia de rapsodo, já que rhaptein, em grego, significa coser. Estes multiartistas ancestrais eram como “costureiros” que alinhavavam conhecidos textos-tecidos. É um exercício que Renato também pratica no espetáculo, ligando trechos de suas obras a produções de escritores e compositores brasileiros, africanos e europeus de diferentes linhagens.
De sua criação, Forin Jr. utiliza principalmente “Samba de uma noite de verão”, livro que reescreve “Sonho de uma noite de verão”, de Shakespeare, à brasileira, ou seja, com o propósito de construir uma metáfora da formação do país em perspectiva crítica. Assim, além de personagens do nosso imaginário literário, como os malandros, lavadeiras, mães de santo, os líderes sociais, os exploradores da especulação imobiliária, agrega à história deidades da mitologia dos orixás e lendas da cosmogonia ameríndia. As três matrizes culturais que confluem na formação do país, ora de forma amistosa e ora de modo violento, estão representadas na aula-espetáculo.
“O samba, sendo hoje reconhecido como ‘produto de exportação’, é um retrato da nossa história complexa, das marcas coloniais: ele sobreviveu a criminalizações institucionais e tentativas de silenciamento a partir da célula angolana e da resistência inteligente dos negros escravizados ou das comunidades populares subalternizadas”, pontua Renato. Ele acrescenta que abordará também outras referências brasileiras que são resultado da reinvenção da diáspora, como a umbanda e as manifestações de roda. Dentre as canções que Renato interpreta está “Compasso da Vila”, letra integrante do seu livro-CD, que descreve o cotidiano da Vila de Vera Cruz, onde é ambientada a fábula, e a inédita “A mão do tempo”. Aparecem ainda trechos dos livros “Carne viva” e “OVO”.
“Ao longo das apresentações, desde a estreia, cerzimos diferentes colchas de histórias e saberes. Apesar de passar por temas complexos, procuro fazer na aula um exercício íntimo, subjetivo, para que encontremos em nossa infância e na nossa ancestralidade o fio da meada de quem somos hoje, o fio da voz que continuamos fazendo vibrar no mundo”. O trabalho tem direção de produção de Danieli Pereira e operação técnica de Carol Vaccari. As bases musicais são de Gustavo Gorla e a preparação vocal é de Paulo Vitor Poloni. Na apresentação do Festival, haverá uma banca com livros do autor para venda a preços promocionais, inclusive o seu box com a dramaturgia reunida chamado “Teatro fora da caixa” e lançado recentemente.
Itaipu apresenta Festival de Dança de Londrina 2025. Realização: APD – Associação dos Profissionais de Dança de Londrina e Região Norte do Paraná. Patrocínio exclusivo da Itaipu Binacional. Apoios da Casa de Cultura da UEL e da Rádio UEL FM.
Serviço: Costuras poéticas pelo fio da voz
Aula-espetáculo de Renato Forin Jr.
(Londrina-PR)
Dia 8 out (qua)
20 horas
Teatro Ouro Verde (R. Maranhão, 85)
Autoclassificação indicativa: 14 anos
Duração: 110 minutos
Entrada gratuita
50% dos ingressos com distribuição online antecipada pelo Sympla: sympla.com.br/festivaldedancadelondrina
50% distribuídos no Teatro Ouro Verde a partir das 16 horas do dia 7 out
(máximo de dois ingressos por CPF)
Ficha Técnica:
Roteiro, performance e desenho de cena: Renato Forin Jr.
Direção de produção: Danieli Pereira
Operadora técnica: Carol Vaccari
Preparação vocal: Paulo Vitor Poloni
Bases musicais: Gustavo Gorla
Fotografia: Marika Sawaguti