A moda, o olhar, os corpos e a diversidade na arte e vivência de pessoas negras são o tema do projeto expográfico “Visões da Genialidade Cultural Negra”, em cartaz no Sesc Cadeião de 18 de novembro a 16 de janeiro. Idealizado pelo fotógrafo e diretor criativo João Júnior, a mostra coloca em cena representações ricamente construídas e imortalizadas em fotografias de personalidades negras de Londrina, em uma celebração imagética a força criativa da comunidade negra que dá visibilidade à potente e diversa produção artística afro-brasileira presente na cidade.
Aprovado pela Secretaria de Estado da Cultura – Governo do Paraná, com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de fomento à Cultura, Ministério da Cultura – Governo Federal, o projeto mostra através das fotos, o talento e a contribuição na arte e diversos setores de cada um dos protagonistas. “Por muitas vezes nós, pessoas negras tivemos nossas vozes silenciadas e imagem apagadas. Nossa sociedade possui certo hábito em branquear o que é belo, ainda que esse seja um conceito individual e não coletivo, sem ao menos saber quem está por trás de feitos tão significativos. A exposição vem mostrar o trabalho de pessoas negras do universo trans, com a condição do vitiligo, corpos diversos, tonalidades e cabelos diversos e me enche de orgulho ter a confiança da minha comunidade preta confiando no meu trabalho enquanto também artista”, comenta Junior.
A exposição parte de um autorretrato do próprio artista, na cena de um crime. Essa imagem é o ponto de partida para a construção de outras perspectiva para o público visitante que começa a percorrer o cenário onde as outras imagens, ricamente construídas, estão expostas. A cenografia dialoga com o universo forense de forma sutil e cinematográfica, sem cair em caricaturas ou reproduzir literalmente uma cena de crime. A ideia é aproximar o público de uma atmosfera de interrogatório e investigação, transmitindo um clima de tensão, reflexão e busca por evidências, sem ser excessivamente literal ou policialesco. A mostra acontece no hall de entrada do Sesc Cadeião e é gratuita.
As fotos seguintes mostram artistas negros, pessoas que criam, que produzem cultura, que afirmam sua existência. Sozinhas, elas não tem nada de “criminal”. Mas, depois de ver a primeira foto, o olhar do público muda. De repente, tudo e todos parecem suspeitos. Personagens desse percurso, o designer gráfico João Carlos, a modelo Alice Vieira, a body piercer e artista da modificação corporal, Stefani Zingaro, a artista plástica e estilista Marielle Matterazzi, a designer de moda Manu Oliveira, o motion designer Paulo Brasil, o diretor de videoclipe Igor Henrique da Veiga Barbosa, mais conhecido como Cria da Rua, a dançarina Mariana Camilo e as produtoras culturais Sandra Aguillera e Juuara Juareza Barbosa dos Santos. “A exposição fala sobre esse olhar que desconfia, que julga, que tenta enquadrar corpos negros como se eles sempre tivessem feito algo errado — até quando só estão criando. Essas imagens questionam quem tem o poder de olhar e de definir o que é arte, o que é ameaça, o que é beleza”, contextualiza João Junior.
Ao propor uma experiencial imersiva, os visitantes são convidados a decifrar um mistério. Uma provocação do idealizador para fazer refletir sobre questões como o racismo, o pré-julgamento, a imputação de uma culpa de uma sociedade que exclui, marginaliza, julga e corrompe fazendo o expectador pensar se realmente pode haver algo errado em pessoas pretas serem vistas e produzirem arte e cultura. “Quando o ambiente provoca, os olhares ajuízam, martirizam e condenam. Essa reflexão vem de experiencias próprias, vividas na pelo por João Junior e amigos além de referências artísticas visuais como as obras de Jordan Peele, Spike Lee e principalmente a minissérie “Olhos que Condenam” de Ava DuVernay.
Cada fotografia foi pensada com base nos três eixos do conceito expográfico: Identidade e presença, Genius Loci (o espírito do lugar negro), futuro e inspiração. De acordo com o artista, esse é o verdadeiro sentido por trás de cada fotografia, pensadas para abordar intrinsicamente a arte de cada indivíduo. A escolha dos figurinos contou com o apoio de Nathalia Cardamoni, que já trabalha em defesa das pautas raciais na moda e possui um olhar solícito para a comunidade negra. “Quando apresentei o projeto, mencionei que eu não gostaria apenas de vestir artistas, mas que suas vestes conversassem com a grandeza do projeto e trouxesse uma linguagem própria as fotografias. A partir daí, a Nath foi em busca de apresentar o projeto a marcas do comércio local que estivessem com o mesmo propósito que o nosso”, conta.
Para Joao Junior, falar do projeto Visões da Genialidade Cultural Negra é falar da realização de um sonho. “Contribuir com meu povo, fazendo o que eu amo, vindo de onde eu venho, sem recurso, batalhando pra conquistar um pequeno espaço. Foram muitos e muitos anos lutando pra chegar até aqui e esse é o primeiro trabalho que pude entregar 100% de mim, com o meu olhar, com tudo que eu aprendi”, revela. O trabalho, continua o fotógrafo, é um agradecimento à cidade de Londrina que o fez se reconhecer enquanto artista. “Esse projeto me abraça e traz os meus junto, pessoas que admiro”, completa. Mais informações no Instagram do projeto: @jjr.maisoncreative
Serviço: Exposição fotográfica “Visões da Genialidade Cultural Negra” de João Junior
Data: de 18 a 16 de janeiro
Sesc Cadeião (Rua Sergipe 52)
Horário de visitação: de terça a sexta, das 9h às 21h. Aos sábados e domingos, das 9h às 18h
Gratuito
Classificação indicativa: livre
Projeto aprovado pela Secretaria de Estado da Cultura – Governo do Paraná, com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de fomento à Cultura, Ministério da Cultura – Governo Federal.