O que começou como um módulo de Ciências no 9º ano do ensino fundamental se transformou em um projeto científico com resultados promissores e alcance internacional. Três alunos do ensino médio de Rolândia, em parceria com o professor de Física Kaio Fukahori, desenvolveram um protótipo de bota terapêutica baseada em radiação de baixa energia — o infravermelho — para auxiliar no tratamento de lesões em ligamentos e tendões.
A iniciativa contou com apoio do Laboratório de Física e Biologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da Clínica de Fisioterapia de Rolândia, onde foram realizados os primeiros testes clínicos. Em seis meses de desenvolvimento, o grupo aplicou metodologia científica com pacientes, dividindo-os entre uso da bota e placebo, e acompanhou a evolução com exames de ressonância magnética.
Foram avaliados quatro pacientes: dois utilizando a bota e dois em tratamento placebo. Os resultados mostraram melhora significativa nos casos reais, com redução de líquidos retidos, inflamações e até desaparecimento de nódulos. Já os pacientes que usaram placebo apresentaram piora nos exames.
O tempo de aplicação do tratamento é calculado individualmente, levando em conta o índice de massa corporal (IMC) e o fototipo de pele, com média de sete minutos diários por sessão. O sistema foi aperfeiçoado ao longo dos três anos do ensino médio, permitindo também o desenvolvimento de outros acessórios, como joelheira, cotoveleira e ombreira.
“A gente começou apenas com uma curiosidade em sala de aula, estudando radiação na saúde. Hoje temos um produto testado, com aplicação real e que pode ajudar muita gente”, conta João Guilherme Batista Borges, um dos alunos envolvidos no projeto.
O grupo já conta com o processo de proteção da ideia, em parceria com o Sebrae, para evitar cópias. A diretora da escola, Aparecida de Fátima Maroneze, acompanha a iniciativa e destaca o protagonismo dos estudantes. “É um exemplo de como a iniciação científica pode transformar o futuro dos jovens e abrir portas que muitas vezes nem imaginávamos”, afirma.
Além do apoio técnico da UEL e da clínica local, os alunos receberam suporte do Plano de Saúde Hospitalar, que financiou as passagens aéreas e a inscrição na feira internacional, incluindo hospedagem e alimentação.
O projeto conquistou o primeiro lugar em uma feira de Londrina, avançou para a etapa regional em Recife, com participação de iniciativas da América Latina, e agora se credenciou para competir em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. A viagem ocorre nesta semana: os estudantes embarcam nesta quinta-feira (25) e retornam em 5 de outubro. O professor Kaio Fukahori ressalta que a experiência vai além do reconhecimento acadêmico. “Mais do que o prêmio, o que eles ganham é a vivência científica, o contato com pesquisadores do mundo todo e a oportunidade de enxergar que ciência se faz em qualquer lugar, inclusive dentro da escola pública”, afirma.