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Escritor de Londrina costura o Paraná com poesia

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Renato Forin: turnê por dez cidades (foto: Marika Sawaguti)


Renato Forin Jr. percorre dez cidades do Estado com “Costuras poéticas pelo fio da voz”, aula-espetáculo em que vasculha canções e histórias orais formadoras do Brasil em perspectiva subjetiva

A partir desta semana e até agosto, dez municípios paranaenses recebem uma aula-espetáculo produzida em Londrina pelo escritor e diretor Renato Forin Jr. a partir de seu livro-CD “Samba de um a noite de verão”, última obra da cidade contemplada com o Prêmio Jabuti. As apresentações têm entrada gratuita e começam nesta quarta-feira, dia 21 de junho, por Dois Vizinhos, no sul do Estado. Na sequência, passam pelos municípios de Palmas, Quedas do Iguaçu, Irati, Astorga, Jacarezinho, Ortigueira, Guaíra, Rio Negro e Matinhos. 

A turnê conta com apoio exclusivo da Copel em projeto aprovado no Programa de Fomento e Incentivo à Cultura (PROFICE), da Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado do Paraná. O apoio cultural é do Agon Teatro.

“Costuras poéticas pelo fio da voz” nasceu a partir dos convites para palestras que Forin Jr. recebeu de escolas depois da premiação do livro. “Eu chegava na sala de aula e percebia uma ideia cristalizada no imaginário dos alunos sobre o perfil e a história de um autor. Gostava de contar minha trajetória, porque muitos se identificavam: não tive uma infância cercada de livros, o que não significa que estive apartado da poesia. Ela estava nas histórias orais e canções da minha família. A paixão pelo livro vem só depois, e ele esteve sempre a serviço da voz”, explica. 

Na aula-espetáculo, Renato recorre aos primeiros contadores de história de que se tem registro – os griôs africanos e os rapsodos gregos –, e os atualiza por meio da potência oral do Brasil, herança da formação étnica. O nome “costuras poéticas” faz referência à etimologia de rapsodo, já que rhaptein, em grego, significa coser. Estes multiartistas ancestrais eram como “costureiros” que alinhavavam conhecidos textos-tecidos. É um exercício que Renato também pratica na aula-espetáculo, ligando trechos de suas obras a produções de escritores e compositores brasileiros, africanos e europeus de diferentes linhagens. 

De sua criação, Forin Jr. utiliza principalmente “Samba de uma noite de verão”, livro lançado em 2016 que reescreve o “Sonho de uma noite de verão”, de Shakespeare, à brasileira, ou seja, com o propósito de construir uma metáfora da formação do país em perspectiva crítica. Assim, além de personagens típicos do nosso imaginário, como malandros, sambistas, lavadeiras e políticos, agrega à história deidades da mitologia dos orixás e lendas da cosmogonia ameríndia. As três matrizes culturais que confluem na formação do país, ora de forma amistosa e ora de modo violento, estão representadas na aula-espetáculo. 

“O samba, sendo hoje reconhecido como símbolo nacional e produto de exportação, é um retrato da nossa história complexa, das marcas coloniais: ele sobreviveu a criminalizações institucionais e tentativas de silenciamento a partir da célula angolana e da recriação dos negros escravizados ou das comunidades populares subalternizadas. Podemos entende-lo simbolicamente também como produto das misturas: as percussões africanas, os sopros indígenas e as cordas ibéricas”, pontua Renato.
Ele acrescenta que abordará também outras referências brasileiras que são resultado da reinvenção da diáspora, como a umbanda e as manifestações de roda. Dentre os sambas que Renato interpreta no espetáculo está “Compasso da Vila”, letra integrante do seu livro-CD, que descreve o cotidiano da Vila de Vera Cruz, onde é ambientada a fábula. Após cada apresentação, haverá lançamento da obra.

“Costuras poéticas pelo fio da voz” tem classificação indicativa livre e pode ser acompanhado pelo público em geral. Esta turnê é ainda dirigida especialmente a professores do ensino básico, educadores em geral, mediadores de leitura, bibliotecários e estudantes de Letras ou outras disciplinas artísticas. Um programa impresso foi preparado como material de apoio no contexto didático para estes espectadores. 

“A expectativa é que possamos cerzir uma nova colcha de histórias e saberes em cada um desses locais. Apesar de passar por temas complexos, procuro fazer na aula um exercício íntimo, subjetivo, para que encontremos em nossa infância e na nossa ancestralidade o fio da meada de quem somos hoje, o fio da voz que continuamos fazendo vibrar no mundo”.   A aula-espetáculo tem direção de produção de Danieli Pereira e técnica de Ricardo Grings. As bases musicais são de Gustavo Gorla e a preparação vocal é de Paulo Vitor Poloni. Após a turnê pelo Profice, estão agendadas apresentações em Londrina e também fora do Estado.  

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