Oswaldo Diniz, agitador cultural de Londrina, é tema de biografia

Apresentador de rádio e TV, ator, diretor de teatro, colunista, designer gráfico e jornalista. Um multimídia inquieto, o talentoso Oswaldo Diniz exerceu todas essas e ainda outras atividades em Londrina nas décadas de 1960 e 1970, impregnando a memória de muitos que viveram a efervescente cena cultural da cidade naquele período. Apesar dessa atuação múltipla e relevante para a história das artes e da comunicação londrinense, depois de sua morte precoce aos 44 anos, Diniz ficou um pouco esquecido na cidade, e seu nome é praticamente desconhecido pelas novas gerações.

Para reviver sua história, os jornalistas Felipe Melhado, Gabriel Daher e Teixeira Quintiliano decidiram escrever o livro Vou Lá e Faço – a vida-obra de Oswaldo Diniz, que conta com o patrocínio do PROMIC – Programa Municipal de Incentivo à Cultura. Para a produção do livro, os autores realizaram entrevistas com pessoas que conviveram ou foram influenciadas pelo trabalho de Oswaldo Diniz, como seus familiares, amigos, colegas de trabalho e fãs – entre eles, muitas personalidades da cultura londrinense, como Arrigo Barnabé, Joana Lopes, Linda Bulik, Marco Antonio Almeida, entre outros.

Além de trazer passagens curiosas sobre a vida de Diniz, a obra também revela um pouco dos bastidores do teatro, do jornalismo, do rádio e da TV na Londrina dos anos 1960 e 1970. O livro será publicado no segundo semestre pela Grafatório Edições, conhecida por suas edições artesanais e que já lançou livros como No Fim da Infância, reunindo memórias de Arrigo Barnabé, e a coletânea A Hora da Lâmina, com textos produzidos pelo poeta curitibano Paulo Leminski para a Folha de Londrina no ano de 1989. Vou Lá e Faço – a vida-obra de Oswaldo Diniz, contará com o projeto gráfico dos designers Maikon Nery e Gustavo André.

Trajetória

Nascido em 30 de abril de 1940 na cidade de Paraguaçu Paulista (SP), Oswaldo Diniz teria completado 80 anos de idade na quinta-feira (30). Sua chegada em Londrina, para onde a família havia se mudado pouco antes, aconteceu no ano de 1965. Na cidade, ele se tornou uma espécie de celebridade local em razão de sua atuação no rádio e na televisão. Na rádio Alvorada, apresentou uma série de programas como Brotos Somente Brotos, Disc-Jockey, Vitrola Mágica e É Disco Que Eu Gosto; e na TV Coroados, dirigiu e atuou em Aquele Que Contava Histórias (uma experiência local de teleteatro, com peças encenadas ao vivo), Bossa Total e o memorável Ala Jovem, uma versão local da Jovem Guarda.

No teatro, Diniz dirigiu montagens como Revolução na América do Sul, de Augusto Boal, e O Assalto, de Zé Vicente. Estes trabalhos, feitos com estudantes do Grupo de Teatro da Faculdade de Medicina, levaram em 1968 e 69 os prêmios de Melhor Peça nas duas primeiras edições do Festival Universitário de Londrina – uma mostra competitiva que, mais tarde, daria origem ao FILO.

No início da década de 1970, Diniz ainda trabalharia na Folha de Londrina, onde começou como designer gráfico. Em pouco tempo acumulou também as fuções de jornalista e colunista, criando o Caderno 3, suplemento cultural que seria o embrião da atual Folha 2. Diniz chocou os leitores mais pudicos da província ao publicar, na capa desse suplemento, fotos de nus masculinos – feito que quase culminou com sua demissão da Folha. Antenado com o que acontecia nas artes no Brasil e no mundo, em sua coluna É Isso Aí!!?, Diniz resenhava lançamentos de discos, filmes, livros e peças de teatro, escrevendo textos curtos, bem-humorados, mas muitas vezes impiedosos com seus alvos.

“Subversivo”

Por sua atuação como apresentador de programas de rock e seu envolvimento com o teatro dito “subversivo”, de vanguarda, Oswaldo Diniz acabou sendo associado aos movimentos transgressores da juventude, que revolucionava os costumes em todo o mundo nos anos 1960 e 70. No entanto, a partir de certo período, ele próprio começou a enxergar a contracultura com certo ceticismo, duvidando de sua capacidade transformadora.

Por outro lado, por não se engajar com a militância mais ortodoxa em plena ditadura militar, Diniz foi bastante criticado por alguns intelectuais de esquerda da cidade. Mas a sofisticação do trabalho e o apelo pop sempre garantiram a ele um grande reconhecimento do público em Londrina.

Diniz mudou-se para São Paulo, onde trabalhou em agências de comunicação por uma década. Voltou a Londrina em 1983, onde abriu o bar Pão, Filé & Cia. Mas a cidade pouco pode aproveitar com seu retorno: em 1984, em plena expansão da pandemia da AIDS, Oswaldo Diniz faleceu vítima do HIV.

(Com informações da assessoria de imprensa/Foto: Divulgação)

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