Sabe o que acontece com seu corpo em estado de “estresse térmico”?

O Brasil enfrenta uma nova onda de calor, a sétima deste ano, com temperaturas entre 5 e 10 graus acima da média. Os termômetros podem ultrapassar os 37 graus em várias regiões, incluindo o Rio de Janeiro, onde a umidade do ar está baixa, aumentando o risco de incêndios.

No total, 11 estados são afetados, incluindo Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, sul de Goiás, Triângulo Mineiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Acre, Amazonas e Rondônia. A previsão é que o calor e a baixa umidade se intensifiquem.

Embora algumas regiões do Brasil frequentemente experimentem altas temperaturas e os brasileiros estejam geralmente mais adaptados ao calor em comparação com populações de países europeus que enfrentaram desafios semelhantes nos últimos meses, a situação é particularmente perigosa devido à sua extrema intensidade.

Estar exposto – especialmente nos horários de pico do calor, entre 12 e 16 horas – pode causar alterações no organismo que oferecem risco à saúde, principalmente para grupos com saúde mais frágil, incluindo idosos, pessoas com comorbidade, e crianças pequenas.

O que acontece quando o corpo é exposto a temperaturas extremas

Quando o corpo está em estresse térmico, ou seja, é exposto a temperaturas extremas, ele passa por uma série de adaptações fisiológicas para regular a temperatura interna. No caso da exposição ao calor, primeira reação do organismo é dissipar calor através do suor e da dilatação dos vasos sanguíneos periféricos para liberar calor para o ambiente.

No entanto, em temperaturas muito altas, especialmente quando também está úmido, o mecanismo de resfriamento do suor pode se tornar ineficaz, levando ao superaquecimento corporal, insolação e possíveis danos aos órgãos.

Ilustração mostra como o calor extremo afeta o corpo

“Quando estamos expostos a temperaturas mais elevadas, ocorrem adaptações no nosso corpo. A frequência cardíaca aumenta como um mecanismo compensatório, assim como a pressão arterial”, explica Lucas Albanaz, clínico geral, coordenador da clínica médica do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, e mestre em ciências médicas.

Outro risco, alerta o médico, é a desidratação devido ao aumento da sudorese. A depender da temperatura, complementa o médico Alexander Daudt, os sinais vão de câimbra (por falta de eletrólitos, eliminados no suor), a sede intensa e fadiga.

“Outros sintomas mais graves, como tontura, náuseas ou vômitos também podem aparecer. Se a pessoa não conseguir aliviar esse calor, o quadro pode evoluir para choque térmico, com confusão mental, convulsões, e seguindo para a falência de múltiplos órgãos e óbito”, explica ele, que é coordenador do Núcleo de Medicina de Estilo de Vida do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

De acordo com o relatório do The Lancet, nos últimos 20 anos o aumento da mortalidade relacionado com o calor excessivo em pessoas com mais de 65 anos aumentou em 53,7%. Apenas na Europa, em 2022, ocorreram 61.672 mortes atribuíveis ao calor entre 30 de maio e 4 de setembro de 2022, segundo uma análise recente publicada na Nature Medicine.

Os riscos são maiores para pessoas com comorbidades, pessoas idosas, especialmente aquelas com saúde fragilizada, crianças (por ainda estarem com o organismo em formação), trabalhadores que precisam se expor ao sol (como vendedores ambulantes), e aqueles que fazem uso de medicações que por algum motivo os tornem mais vulneráveis ao calor.

“É o caso de pacientes que tomam remédios diuréticos, por exemplo. Eles naturalmente já perdem mais água, e precisam de cuidado extra com hidratação”, aponta Daudt.

cachorro em frente a um ventilador
Há cuidados também a tomar para proteger os pets do calor extremo

Como se proteger do calor intenso

“A palavra de ordem é hidratação, que deve ser feita principalmente pela ingestão de líquidos. Também é indicado hidratar a pele, com cremes, as narinas, com soro fisiológico, e os olhos, com colírio. Essas partes do corpo também são afetadas”, diz Albanaz.

Abaixo, destacamos dicas oferecidas pelos especialistas consultados na reportagem e divulgadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde):

Mantenha sua casa fresca

  • Tente manter a temperatura abaixo de 32°C durante o dia e 24°C à noite, especialmente para crianças, idosos e pessoas com problemas de saúde crônicos;
  • Use o ar noturno para resfriar sua casa, abrindo janelas e persianas durante a noite;
  • Reduza a carga de calor interna fechando janelas expostas ao sol, desligando dispositivos elétricos e pendurando cortinas.

Evite o calor

  • Procure os lugares mais frescos da casa, especialmente à noite;
  • Se a sua casa não estiver fresca, passe algumas horas por dia em locais com ar-condicionado, como edifícios públicos;
  • Evite sair durante as horas mais quentes do dia e atividades físicas extenuantes.

Mantenha-se hidratado e fresco

  • Tome banhos frios e use compressas frias para aliviar o calor;
  • Vista roupas leves e largas, incluindo chapéu e óculos de sol;
  • Beba água regularmente e evite álcool e cafeína, que contribuem para desidratação.
ilustração com dicas de como manter a casa mais fresca

Ajude outros

  • Verifique familiares, amigos e vizinhos vulneráveis;
  • Certifique-se de que todos em sua família saibam o que fazer em caso de calor extremo;
  • Se tiver animais domésticos, evite passeios nos horários mais quentes.

Cuidados em caso de mal-estar

  • Procure ajuda se sentir tontura, fraqueza, sede intensa ou dor de cabeça;
  • Beba água ou suco para se reidratar;
  • Em casos graves, como delírio, convulsões e inconsciência, chame ajuda médica imediatamente;
  • Leve a pessoa para um local fresco, deite-a, eleve as pernas e inicie o resfriamento externo com compressas frias;
  • Não dê medicamentos sem orientação médica.
ilustração com dicas de como aliviar o calor

Fonte: (BBC Brasil) A reportagem foi publicada originalmente em novembro de 2023 e atualizada em setembro de 2024.