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Acidentes e agressões diminuem no Estado com toque de recolher

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O toque de recolher, imposto como uma medida para frear a curva de contágios do novo coronavírus, está reduzindo os índices de agressão e acidente de trânsito. Nesse momento em que os sistemas de saúde estão sobrecarregados, por conta do aumento de casos de internamentos de infectados em estado grave, a diminuição da circulação de pessoas é eficaz para diminuir a pressão nas upas e unidades hospitalares. A matemática é simples: sem ocorrências nas ruas, sobram mais leitos destinados para pacientes com coronavírus. Daí a importância de acatar a medida imposta pelos governos e ficar em casa.

No Paraná, casos de agressão física ou provocadas por faca, segundo levantamento do Corpo de Bombeiros, divulgados no site G1 Paraná, reforçam essa percepção: entre os dias 19 e 26 de fevereiro, houve 29 casos de agressão com faca. Depois que houve o decreto estadual que restringiu várias atividades, entre elas o fechamento de bares, os casos diminuíram para 22 ocorrências entre os dias 26 de fevereiro e 5 de março: uma queda de 23%.

Nos casos de agressão física, nos dois períodos comparados, também houve redução de 85 casos para 65 (baixa de 22%). Os acidentes de trânsito no Estado, apontou o levantamento, tiveram redução de 17% (887 casos para 734) na comparação entre o espaço de tempo em que o decreto não foi aplicado com o período em que ele já estava valendo.

Neste ano, com a suspensão de eventos de carnaval, outra situação associada ao intenso consumo de álcool, a queda nas ocorrências de trânsito também foi constatada. Em Santa Catarina, por exemplo, a redução de mortes nas rodovias federais chegou a quase 40% no período que deveria ser reservado ao carnaval do ano de 2021 em comparação ao ano passado, quando as festividades ocorreram, de acordo com a PRF (Polícia Rodoviária Federal).

Restrição de circulação está relacionada ao consumo de bebidas alcóolicas

A médica psiquiatra e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Sobre Álcool e Outras Drogas (ABEAD), Alessandra Diehl, argumenta que a restrição da circulação de pessoas pelas ruas é efetiva, sobretudo, porque inibe o consumo do álcool, que está diretamente relacionado às hospitalizações. A publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros, divulgada em 2019, indica que os acidentes de trânsito foram a segunda principal causa de internações relacionadas ao uso de álcool em 2017. Outro estudo, conduzido por pesquisadores da USP, aponta que o uso de álcool ocasiona mais de 3 milhões de mortes por ano em todo o mundo. No Brasil, cerca de 40 mil mortes por acidentes de trânsito e 60 mil homicídios ocorrem, por ano, como resultado do consumo de álcool.

“Sem poder circular, não há tráfego intenso para ida constante a bares para consumir álcool, além de festas e confraternizações em ambientes domiciliares que estimulam o uso de bebidas alcóolicas. Esse fator também tem ajudado a explicar as quedas nas estatísticas em situações de trânsito e brigas. Existem inúmeras evidências que permitem caracterizar o papel do álcool como fator de risco para internamentos e morte. Por isso, o álcool é encarado como um problema de saúde pública”, diz Alessandra.

Efeito inverso

No entanto, em plena pandemia, houve períodos em que se também verificou o contrário. Principalmente nos meses do segundo semestre, marcados pela volta de uma movimentação geral mais próxima da realidade antes da pandemia. No Ceará, por exemplo, houve crescimento de 7,6% dos acidentes no mês de novembro do ano passado em comparação ao mesmo mês de 2019.

“Como se percebe há um desafio muito grande ainda e não podemos comemorar. É preciso que a fiscalização seja mantida e intensificada para identificar aglomerações e o consumo de álcool em festas clandestinas e estabelecimentos comerciais que desrespeitam as medidas de distanciamento social,” afirma Diehl.

Para a especialista, o novo comportamento de queda envolvendo situações historicamente relacionadas ao consumo de álcool, como as agressões e acidentes de trânsito, não deveria se restringir ao período da pandemia. Diehl aponta que os resultados devem servir de instrumento educativo para inspirar ações que estimulem mudanças no comportamento de todos para manter as estatísticas em queda, cada vez mais.

“Com certeza, a queda no número de feridos e mortos ajudou a contribuir com mais vagas nos hospitais para abrigar vítimas da pandemia. Essa é uma informação importante e que também deve ser usada para refletir os próximos passos que ajudem a tornar nossa realidade mais tranquila e com menos acidentes e vítimas de agressão”, finaliza.

Foto: Emerson Dias/Divulgação

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